sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sobre eleições e Cultura

Entrevista veiculada na Gazeta de Alagoas (gazetaweb.globo.com/gazetadealagoas), na edição da última terça-feira (09 de fevereiro). Por Carla Serqueira.


“Minha candidatura a senador é irreversível”


Foto: Gilberto Farias/ Gazeta de Alagoas

Para o presidente estadual do PCdoB, Eduardo Bomfim, a eleição de outubro será como um plebiscito. Será o momento de o povo escolher o modelo econômico do Brasil: do governo Lula ou do governo FHC. Foi em seu gabinete, na Secretaria Municipal de Ação Cultural, ontem pela manhã, que ele revelou o que pensa sobre a disputa em Brasília e em Alagoas. Um dos líderes do “Chapão”, Bomfim disse que quer ser senador, falou da aliança com o PT, e avaliou a presença do partido no interior. Ele também prestou contas do carnaval em Maceió. Leia a seguir.


GAZETA – Secretário, qual é o interesse do PCdoB dentro do Chapão?

EDUARDO BOMFIM – eu acho que estas eleições serão plebiscitárias. O país estará, em outubro, diante de uma grande decisão. Não será escolhido esse ou aquele gestor. É mais do que isso. Agora teremos que optar: vamos continuar com esse modelo econômico de desenvolvimento com inclusão social, ou vamos retornar ao modelo que a mídia cunhou como neoliberal? Essa é a questão.


Com exceção da última eleição, o presidente Lula sempre perdeu em Alagoas. Foi esta a preocupação que atraiu o PCdoB para o Chapão?

O que existe no Chapão é uma política de alianças que se reproduz nos Estados. São diferentes segmentos afinados com as políticas econômicas e sociais estratégicas do Estado brasileiro atual. Estamos com aqueles que querem continuar e ampliar as políticas do seu governo; com aqueles que não marcharão de volta às políticas neoliberais.


Como o partido se aproximou do grupo?

O PcdoB sempre apoiou Lula, desde 1989. As pessoas desse grupo, ao longo dos oito anos do governo Lula, foram se identificando com ele. Então, não foi o PcdoB que se aproximou, nem foi ninguém que as aproximou do PcdoB. É um processo decorrente do campo de alianças em nível federal, que se estabelece em nível estadual.


O senhor acha que o grupo está consolidado, que vai até o fim?

Eu não sei. Acredito que o grupo tende a se consolidar. O quadro está indefinido para o governo. Para o Senado, temos várias candidaturas legítimas. E na medida em que essa frente for se estabelecendo, vamos ter candidatos para a Câmara Federal. Em qualquer eleição, há sempre o peso regional. E nesta as forças serão divididas na encruzilhada: ou vamos continuar com o atual modelo econômico ou vamos voltar aos oito anos do governo FHC. E como o Brasil é um País federalizado, o peso regional é definitivo na escolha da política nacional.


O presidente Lula parece saber bem disso e por isso tem interesse em montar logo o palanque da Dilma Rousseff aqui, onde enfrenta dificuldades na urnas. O senhor já revelou que prefere Cícero Almeida para o governo. Mas Lula quer o ex-governador Ronaldo Lessa. O que o senhor acha deste favoritismo?

Eu acho que o Ronaldo Lessa tem uma longa trajetória madura e eficiente como governador do Estado. E ele está bem situado nas pesquisas. Por outro lado, temos o prefeito que já atingiu 91% de popularidade em Maceió. Esses dois quadros, junto ao presidente Lula, precisam se entender, chegar a uma equação correta.


O senhor acha que o prefeito deixaria a prefeitura para arriscar o governo?

O prefeito Cícero Almeida tem que tomar uma decisão muito melindrosa. Ele tem três anos para administrar Maceió, com total apoio do presidente Lula e obras a serem realizadas de grande magnitude, que podem mudar a face da periferia. A gente precisa compreender o drama shakespereano do prefeito, to be or not to be, ser ou não ser. Por outro lado, tem a pressão da opinião pública. Por onde eu ando com o prefeito, o pessoal pede para ele ser governador. Existe um prazo [até 3 de abril] para esta decisão. Temos tempo para que as conversas sejam definidas com trnaquilidade.


Se o senhor tivesse que apostar, em quem depositaria suas fichas?

Nesta eleição, de caráter plebiscitário, tanto o prefeito como o Ronaldo Lessa têm amplas possibilidades de sair vitoriosos. A questão é que além do peso regional, teremos o peso nacional.


O senhor pretende disputar mesmo o senado?

Sim. Minha candidatura ao Senado foi uma injunção de um projeto nacional do PcdoB, que tem uma forte disposição em aumentar a representação no Senado.


Qual é a meta do PCdoB?

O PCdoB espera eleger mais de 20 deputados federais e, no mínimo, cinco senadores. Hoje, temos um senador da República e 13 deputados federais.


Em Alagoas, hoje, qual é a representação política do PCdoB?

Temos algumas lideranças na capital. Uma delas é o ex-vereador Marcelo Malta. Em Delmiro Gouveia, temos o vereador Edvaldo Nascimento, que será candidato a deputado estadual. Temos também a Cláudia Petuba, uma jovem universitária, que será a nossa candidata a deputada federal. O partido está com a meta de lançar 31% ou mais de mulheres candidatas. Não se muda o Brasil se não fortalecer o papel delas na política, que é maioria na sociedade brasileira, mas não está representada proporcionalmente. E a Cláudia, além de ser mulher, é jovem. Conhece bem as reinvidicações de ambos.


O nome do vereador Edvaldo Nascimento tem ganhado visibilidade no Sertão. Mas para disputar vaga na Assembleia, a batalha não deve ser fácil. O PCdoB está preparado?

O Edvaldo é vereador desde 2005, se não me engano. Ele tem uma firmeza política muito grande, um nível cultural elevado. Ele está em primeiro plano. É um realizador, tem desenvoltura na esfera nacional. Tem a concepção de uma política elegante. E é firme. Quem não tem firmeza política, não sobrevive na política do Sertão. Político surgido no Sertão de Alagoas está pronto para sobrevier às situações mais áridas. Ele está pronto sim. E vai ser eleito com uma excelente votação.


O Marcelo Malta vai sair candidato em outubro?

Não. Ele está esperando uma definição na Câmara de Vereadores. [Matla aguarda assumir a vaga de Dino Júnior, que teve diploma cassado acusado de compra de voto]. Não me cabe dar opinião, mas sim a Justiça e a Polícia Federal, sobre o mandato que nós temos na Câmara. Afinal de contas, o mandato é do partido.


Para a Assembleia Legislativa, o PCdoB vai lançar mais alguém, além do Edvaldo?

Poderá ter outros candidatos, no momento certo, vamos divulgar. Nós temos uma coligação com o Partido dos Trabalhadores. Demos juntos uma entrevista coletiva no Hotel Enseada e decidimos que vamos nos coligar na proporcional. O PT tem um candidato ao Senado e resolveu me apoiar também. O PT e o PCdoB estão juntos desde 1989. Foi uma iniciativa do PT me apoiar para o Senado.


No Chapão, não falta opção para o Senado. Haverá espaço para todo mundo?

As candidaturas são todas legítimas. A minha foi lançada pela direção nacional do PCdoB, com apoio do PT. Tenho ouvido muito o prefeito, por um dever de ética. Sou secretário de Cultura na gestão dele. Vou voltar a ouvi-lo no fim de março. A minha candidatura não é um desejo pessoal. Nunca me escalei para cargo nenhum, eletivo ou executivo. Já tive quatro mandatos eletivos, fui deputado federal constituinte, nunca me escalei. Minha candidatura já faz parte de um projeto nacional. É irreversível.


Mas ela vai depender de um entendimento com o PP de Almeida e do deputado federal Benedito de Lira, que também quer o Senado?

Não... Sim e não. Sim porque não se trabalha uma frente sem conversar, sem buscar consenso. Mas eu creio que possam existir várias candidaturas ao Senado, dependendo da forma em que forem construídas as coligações em torno do mesmo candidato ao governo. É possível, não precisa afunilar. Você pode ter blocos de partidos se coligando e lançando duplas de candidatos ao Senado. Não são duas vagas? Pode surgir até mais candidatos. É um direito. Nada pode impedir.


O senhor acha que a esquerda vai crescer no Senado?

Acho que há um espaço de renovação e a esquerda vai crescer muito, tanto no Senado da República, como na Câmara Federal. Vai haver uma grande renovação.


Quem vai substituí-lo na secretaria de Cultura?

Essa é uma decisão do prefeito. Ainda não conversei com ele. Cabe a ele indicar o meu sucessor. Se ele me ouvir, vamos conversar com o PCdoB. Eu gostaria que o partido continuasse do governo, sem dúvida.


O senhor foi secretário da cultura quatro vezes, duas vezes no município e duas vezes no Estado. No que consiste a política cultural do PCdoB?

Não temos uma específica política cultural. Acho que é natural. O PCdoB tem quadros que diversos gestores consideram importante utilizá-los. Há uma vocação Não é que estejamos investindo anos para atuar nesta área. Nesses últimos dez anos, além de mim, já foram secretários Ênio Lins, Paulo Poeta, Edberto Ticianelli. Pessoas do PCdoB são chamadas por gestores os mais diferentes possíveis. O PCdoB não fica se escalando. Acho que tem a ver com a formação intelectual.


Como o senhor avalia as prévias carnavalescas? Além do Baile Municipal, a prefeitura investiu no desfile de blocos?

As prévias foram um sucesso, eu vi a notícia de 150 mil pessoas. A prefeitura esteve presente a apoiou, por exemplo, o bloco Filhinhos da Mamãe, que recebeu R$2.500. O Jaraguá Folia, sem contar com infraestrutura, com guardas, limpeza, banheiros químicos, e outros, teve R$ 8 mil. O Pinto, R$ 25 mil. As Pecinhas, R$ 20 mil. A Turma da Rolinha, R$ 5 mil. Os Seresteiros da Pitanguinha, R$ 2.500. O Bumba-meu-boi, 45 mil. As escolas de samba, 60 mil. Enfim, investimos R$ 305 mil, nas prévias e nas escolas de samba, que sairão no fim de semana. Fizemos o que era possível.

2 comentários:

  1. De parabéns pela entrevista. Já havia lido detidamente no jornal, mas, agora melhor, podemos emitir nossas opiniões.
    Bem ponderado nas convicções e projetos, esperamos pela consumação dos fatos para irmos a luta por melhores dias para Alagoas.

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  2. Camarada Eduardo Bomfim: Concordo plenamente quando você coloca: "o PCdoB tem quadros que diversos gestores consideram importante utilizá-los. Há uma vocação Não é que estejamos investindo anos para atuar nesta área. Nesses últimos dez anos, além de mim, já foram secretários Ênio Lins, Paulo Poeta, Edberto Ticianelli. Pessoas do PCdoB são chamadas por gestores os mais diferentes possíveis. O PCdoB não fica se escalando. Acho que tem a ver com a formação intelectual."

    Aproveito a oportunidade para colocar que o meu candidato ao Senado é você camarado Eduardo Bomfim!!!Saudações Socialistas.

    Márcia Sarmento Rodrigues Câmara.

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