quarta-feira, 21 de abril de 2010

Renato Rabelo: The Economist, o Bric e a máxima de Lukács


No Vermelho, artigo publicado originalmente no blog de Renato Rabelo, presidente do PCdoB:


É muito elucidativo ler uma das matrizes do pensamento neoliberal que é a revista inglesa The Economist. Algumas semanas atrás comentamos aqui neste espaço um editorial desta mesma revista que criticava a política atual do Governo Lula e das propostas da pré-candidata Dilma Rousseff no rumo do fortalecimento do Estado Nacional. Agora seus editores voltam à carga para criticar as reuniões dos Brics, com os argumentos já sobejamente utilizados pela grande mídia brasileira, demonstrando a identidade entre eles.

Certa vez num arroubo de lucidez, o filósofo húngaro Georgi Lukács exprimiu uma síntese muito útil a este momento em que a irracionalidade liberal tenta literalmente roubar corações e mentes pelo mundo. Segundo este filósofo “o cerne a-histórico do pensamento burguês se expressa na falta da compreensão do fenômeno como problema histórico”.

A última edição da The Economist expressa literalmente essa máxima. Sob o título de “Brics são incapazes de promover mudanças”, com o mote de escamotear qualquer reforma do sistema financeiro internacional e do FMI, eles listam uma série de assimetrias entre os países membros do Bric, entre elas: a concorrência estratégica e comercial entre os países por mercados de terceiros países, os diferentes regimes “democráticos” e “não-democráticos”, a rivalidade entre China e Índia e a falta de capacidade dos Bric em reivindicar “coerência legal, histórica ou geográfica, da forma como a União Europeia pode”.

Eles se esquecem do bê-á-bá da política estratégica internacional, entre elas a de que alianças estratégicas se fazem em torno de objetivos comuns. O Bric se estabelece, exatamente, com base em finalidades estratégicas que se contrapõem aos interesses e planos das grandes potências capitalistas, sobretudo dos Estados Unidos. No caso do Bric existe um clamor pela democratização do sistema internacional, da reforma do sistema financeiro internacional e – o mais importante – da formação de um escudo ante os efeitos das decenais crises financeiras. Isso tudo além dos acordos políticos de reforma da ONU e de outros organismos multilaterais.

Seria mais correto falar em divergências do que rivalidades entre os quatro países. Por exemplo, desde que a planificação tornou-se uma alternativa à anarquia da produção, principalmente no âmbito do comércio internacional, problemas de disputas comerciais – a título de exemplo – entre a China e a Índia passou a ser amplamente favorável para o país hindu. As questões de fronteiras entre os dois países estão caminhando a passos rápidos desde que o Paquistão passou a girar na órbita do imperialismo em detrimento da antiga influência chinesa. O caso mais grave no sentido econômico, o brasileiro, em que sua economia industrial tende a sofrer ante a concorrência externa, é mais um problema próprio do Brasil do que por imposições de políticas monetárias por parte de países como a China. E por aí vai...

Os editores desta publicação-tumba deveriam buscar a coerência estratégica entre países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a França nos entreatos das duas grandes guerras. Qual era o objetivo estratégico dos EUA com a formação de um sistema político internacional baseado ora na Liga das Nações, ora na ONU? Todo mundo sabe: tanto Woodrow Wilson, quanto Franklin Roosevelt estava de olho no império colonial inglês e francês. Houve escaramuças entre tais países? Não. A França deixou de girar na órbita dos EUA mesmo em momentos antiamericanos como o da época de Charles de Gaulle?

O que a The Economist propõe? Que o Brasil seja mais um México e entre no Nafta e se transforme num território livre do narcotráfico? Uma nação de joelhos ante o poder paralelo do imperialismo? Esse tipo de questão a história já se encarregou de responder.

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