sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A França, o Brasil e a luta contra o neoliberalismo

Publico artigo escrito pela jornalista Sumaia Villela, a meu convite, cujo tema sugeri: as manifestações na França contra a reforma da Previdência. Confiram abaixo.

Fonte das imagens: e-l-i-s-e.blogspot.com (fotos de maio de 68) e G1



As milenares ruas de Paris testemunham, mais uma vez, uma convulsão política na França. Milhões de pessoas, a maioria trabalhadores, com forte adesão da juventude, tomam as ruas, viram carros, constroem barricadas, enfrentam a polícia. Palavras de ordem escritas em cartazes e em cada rosto da multidão avisam que não deixarão que a reforma da Previdência seja consumada. O número 60, desenhado nas bochechas da juventude francesa, resume um direito de que a população não pretende abrir mão: a aposentadoria aos sessenta anos.


Há 42 anos, as esquinas por onde já passou, também, a Revolução Francesa e a Comuna de Paris, eram pontos estratégicos na luta entre o povo e os policiais, entre o Governo e a vontade popular. Como agora, o país encarou uma greve geral que paralisou serviços básicos para o funcionamento da França. Hoje, mesmo após a aprovação da reforma pelo Senado, um quarto dos postos de combustíveis franceses permanece sem gasolina.

Creio que as duas grandes ondas manifestações são diferentes de vários pontos de vista, mas são semelhantes em dois aspectos importantes: são fruto da crise do sistema capitalista, que de tempos em tempos sofre um grande abalo, e têm grande participação da juventude, ao lado dos trabalhadores.

O que ocorre hoje na França é um exemplo da vitalidade da luta política social, viva e pulsante na história contemporânea, que o neoliberalismo propagou estar extinta. E merece uma observação mais atenta para o papel solidário das novas gerações na garantia dos direitos trabalhistas conquistados por seus pais e avós.

O povo não quer mais um sistema de governo que restrinja gastos públicos em áreas sociais. Não quer pagar a conta da crise provocada pelos especuladores financeiros, espremendo seus direitos e bolsos em favor do grande capital.

As centrais sindicais e diversas organizações populares também demonstram seu engajamento à frente das greves e manifestações, assim como a união dos trabalhadores com estudantes e intelectuais e outros segmentos amplos da sociedade francesa.

Na França, o aumento da idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos e 65 para 67 no caso da aposentadoria integral é considerado o início de um vilipêndio aos direitos conquistados com muita luta, como aqui já tivemos exemplos práticos dessa ameaça, por parte do tucanato e seus aliados.

O Brasil não precisou percorrer esse conturbado caminho porque, graças à política econômica e internacional adotada, não foi duramente atingido pela crise, a verdadeira razão do déficit público francês, através anarquia financeira e um governo subserviente ao capital especulativo. Agora, culpando a Previdência, Sarkozy aproveita para minar um direito conquistado em favor do aumento dos lucros dos empresários.

Essa dualidade de projetos, um que pretende utilizar recursos do Estado em favor dos grandes grupos econômicos, e outro em favor dos direitos e garantias fundamentais da população em geral, também está posta aqui. Indiretamente, o Brasil dança a mesma canção, com outro ritmo: as eleições. Aqui, vamos demonstrar que tipo de nação queremos através de um grande duelo, do voto, que escolherá entre uma política neoliberal ou progressista e social-desenvolvimentista, expressadas nas candidaturas de Serra e Dilma, respectivamente.

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