quarta-feira, 27 de abril de 2011

Renato Rabelo: o elo perdido de FHC, o ideólogo da oposição


Em artigo publicado semana passada, para a revista Interesse Nacional, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu mais uma vez o papel de ideólogo da oposição. Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, faz uma séria análise:

Por Renato Rabelo

Ao tentar buscar a essência do movimento real da sociedade brasileira, FHC procura o elo perdido entre a realidade conforme ele a vê e a centelha que poderia colocar fogo na pradaria, tendo em vista a fragilidade da atual estratégia desorganizada e dispersa da oposição. Um pouco antes, o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) já havia discursado da tribuna do Senado Federal, com pompa e circunstância, tentando se assenhorear – sem sucesso – da orientação principal da linha oposicionista.

Visão estreita do processo

Utilizando um formato quase acadêmico, o ex-presidente FHC literalmente joga a toalha acerca da possibilidade de a voz oposicionista tocar os corações e mentes das classes sociais menos favorecidas. Eis a primeira constatação de seu pensamento: sua visão de classe social – e o conteúdo básico da orientação oposicionista – somente teria condições de atingir os setores médios e não todos os setores da sociedade.

Ao negar a disputa pelo “povão”, não compreende que uma das grandes características de nosso tempo está na capacidade de autonomia subjetiva do que se compreende por povo brasileiro. Quando se afirma que sua visão parte de um pressuposto elitista, é porque está em função de a observação sobre o “público-alvo”: acreditar que as classes médias – antes de lutar pela manutenção de seu próprio status quo – seriam mais capazes que os setores populares de discernir entre o certo e o errado em matéria de política.

Esse raciocínio está fundamentado na presunção aristocrática de considerar o povo como uma simples massa de manobra, ao bel-prazer deste ou daquele núcleo de poder, e que as políticas sociais do governo Lula funcionaram apenas como uma política de simples cooptação. É preciso levar em conta que o alargamento da base material desta grande massa foi não apenas um elemento de cooptação, e sim uma condição objetiva para a elevação da consciência social. E esse fenômeno atingiu em cheio uma linha política de oposição que sempre esteve desconectada dos mais profundos anseios populares no Brasil.

Este é o ponto: as massas populares – neste ciclo inaugurado pelo governo Lula – tiveram a chance de distinguir entre um governo que deu de ombros à aguda seca do Nordeste em 1998 e outro que pôs os interesses populares imediatos no leme da política cotidiana do governo. A universalização dos programas sociais é apenas a ponta do iceberg, que pode ser exemplificada também com outras iniciativas de envergadura, como a transposição do rio São Francisco e as oportunidades que se abrem com outras obras de infraestrutura e de reforma urbana na região.

A história e a política ensinam que uma visão estreita de mundo é fruto da exacerbação de um único aspecto da realidade como forma de explicar o todo. Creditar – como faz FHC – pura e simplesmente aos programas distributivos o sucesso de Lula prova que a oposição e seus lugares-tenentes na mídia, na academia e no próprio aparelho de Estado ainda não conseguem enxergar além de seus horizontes. Tudo leva a crer que, a julgar por esse corte puramente metodológico, a oposição poderá continuar perdida por muito tempo.

Para ler o texto na sua íntegra, veja em:

http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=152597&id_secao=3

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