quarta-feira, 6 de julho de 2011

H. Dobal, um poeta particular

Recentemente o amigo Osmar Júnior, deputado federal do PCdoB pelo Piauí, me presenteou com o documentário “H. Dobal, um homem particular”, filme de Douglas Machado sobre o poeta piauiense Hidemburgo Dobal – H. Dobal, considerado o maior poeta do Piauí e reconhecido como um poeta brasileiro de estatura comparável a de outros dos maiores nomes de nossa poesia.

O documentário revela um grande poeta, além de mostrar a terra e o povo piauienses, a cidade de Teresina, cenário da juventude do poeta, de quem falam seus amigos de então, que formavam um grupo de intelectuais jovens, sempre a discutir literatura, filosofia e política, reunidos nas praças de Teresina.

O filme, além de entrevistas com o próprio H. Dobal, apresenta depoimentos de vários desses amigos da juventude, dentre outros intelectuais piauienses, jornalistas, poetas, professores de literatura, escritores, de membros das Academias Brasileira e Piauiense de Letras, e leituras de vários de seus poemas.

Sobre H. Dobal escreveu Manuel Bandeira, em sua apresentação no primeiro livro do poeta, “O Tempo Consequente”, publicado em 1966: ... Mas eu prefiro dizer o poeta total, o poeta por excelência, do Piauí e de outros sertões brasileiros onde “o homem é mais pobre do que as cabras”, e como neles estas são magras! Lendo os versos do piauiense vemos, positivamente “vemos”, tudo o de que ele nos fala. ... Só mesmo um poeta “ecumênico” como Dobal podia fixar a sua província com expressão tão exata, a um tempo tão fresca e tão seca, despojada de quaisquer sentimentalidades, mas rica do sentimento profundo, visceral da terra.

Aqui, dois de seus poemas publicados no “O Tempo Consequente”:

Fazenda

São trinta cabeças
de gado cabrum.
Criação miúda
sem qualquer ciência.
Somente um chiqueiro
defesa noturna
que bem cedo aberto
o dia lhes dá.

Rústicas a vida
de qualquer maneira
sabem extrair.
Mas vem da morte
sua serventia
o couro e a carne para o homem
mais pobre do que elas.


Réquiem

Nestes verões jaz o homem
sobre a terra. E a dura terra
sob os pés lhe pesa. E na pele
curtida in vivo arde-lhe o sol
destes outubros. Arde o ar
deste campo maior desta lonjura
onde entanguidos bois pastam a poeira.

E se tem alma não lhe arde o desespero
de ser dono de nada. Tão seco é o homem
nestes verões. E tão curtida é a vida,
tão revertida ao pó nesta paisagem
neste campo de cinza onde se plantam
em meio às obras-de-arte do DNOCS
o homem e os outros bichos esquecidos.

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