quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Renato Rabelo: É urgente a luta por uma nova ordem, o socialismo!

Renato Rabelo publica em seu blog artigo que escreveu para a revista Caros Amigos:


O sistema capitalista e o modelo neoliberal, vigente nas últimas décadas, entraram em um grande impasse, desmoralizando seus apologistas que pregavam sua infalibilidade. Especialmente após a crise econômica e financeira desencadeada a partir de meados de 2007, com epicentro no sistema financeiro dos Estados Unidos, evidenciam-se os limites históricos do capitalismo. É mais nítido do que em qualquer outro período histórico o abismo que separa o capitalismo e o imperialismo das aspirações da humanidade, e torna-se indispensável e urgente a luta por uma nova ordem internacional e por um novo sistema econômico e social – o socialismo.

O capitalismo não é uma formação política, econômica e social eterna. Cada vez mais os povos e os trabalhadores se aproximarão da encruzilhada histórica: capitalismo – com suas crises e guerras - ou um sistema social superior, cuja alternativa é o socialismo. Neste sentido é essencial extrair ensinamentos das experiências vividas. Temos convicção que uma das grandes lições que se deve extrair das primeiras experiências de construção do socialismo no século XX é a ideia de que não há modelo único de socialismo, nem caminho universal de conquista do poder político. As revoluções vitoriosas do século passado, cada uma delas - na Rússia, na China, no Vietnã, em Cuba - seguiram caminhos próprios. Cada povo e cada força revolucionária construirão seu próprio rumo ao socialismo, e construirá este sistema de acordo com a sua realidade nacional.

De um modo geral, a correlação de forças prevalecente no mundo ainda é estrategicamente desfavorável do ponto de vista do amadurecimento das condições para as lutas pela superação revolucionária do capitalismo, da construção de uma nova sociedade. No entanto, importantes transformações políticas que vem marcando a conjuntura internacional indicam que se estão processando avanços na situação mundial que melhoram as condições para lutar e que se intensifica a acumulação revolucionária de forças. A luta antiimperialista assume maiores dimensões, aparece como a marca da época, tendência capaz de mobilizar grandes contingentes, de desatar energias criadoras e revolucionárias dos povos.

Em nosso país, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB, orientado pelo seu programa, está convicto que a luta por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é o caminho brasileiro para o socialismo. Um projeto nacional que fortaleça a economia nacional, promova o desenvolvimento social do povo brasileiro, amplie a democracia e as reformas estruturais como a reforma agrária, a reforma urbana, a tributária, a reforma política e da educação entre outras, e promova a integração das nações sul-americanas e a solidariedade internacional. Por isso, o PCdoB tem contribuído para construir alianças necessárias para as transformações avançadas no sentido democrático, progressista e popular.
 
Para ler o artigo na íntegra, veja em:
http://www.pcdob.org.br/noticia.php?id_noticia=162712&id_secao=1 ou

http://renatorabelo.org/noticias/e_urgente_a_luta_por_uma_nova_ordem_o_socialismo!

sábado, 27 de agosto de 2011

Projeto do império: EUA gostariam de envolver o Brasil

Reproduzimos aqui trechos do ensaio de Lorenzo Carrasco publicado no Resenha Estratégica:


O renomado Conselho de Relações Exteriores de Nova York (CFR), o principal centro de pensamento estratégico do Establishment dos EUA, acaba de divulgar um novo relatório sobre o Brasil, que não apenas contém diretrizes para a política estadunidense, como também explicita a visão dos autores sobre a posição brasileira no cenário global, no futuro próximo. A importância do documento pode ser aquilatada pelos autores, uma força-tarefa independente de luminares do Establishment encabeçada por Samuel W. Bodman, ex-secretário de Energia do governo Bush filho (2005-09) e James D. Wolfensohn, ex-presidente do Banco Mundial (1995-2005).

Com a leitura do documento, um observador desavisado poderia ter a impressão de que o velho sonho de consumo de numerosos representantes da elite política e diplomática brasileira, um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), estaria a ponto de fazer-se realidade. Logo de início, o texto afirma: "A Força-Tarefa recomenda que o governo Obama endosse plenamente o Brasil como um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A Força-Tarefa incentiva o governo a considerar as importantes dimensões regionais, multilaterais e de governança global de um tal passo, na medida em que engaje o Brasil em um intenso diálogo sobre este assunto."

O relatório também ressalta o papel do Brasil como "ator global", em função da importância da economia brasileira, especialmente, em função do crescimento populacional, seu enorme potencial de recursos naturais, especialmente na área energética - hídrica, petrolífera e nuclear -, potencial de produção alimentícia e papel emergente nos assuntos da ordem mundial, com ênfase em sua projeção frente à África.

Segundo o texto, "devido às massas terrestres, economias, populações e base de recursos de ambos os países, o Brasil e os EUA interagem, necessariamente, em um mundo crescentemente globalizado e multipolar".

O Brasil e o Conselho de Segurança da ONU

Entretanto, antes de se aprofundar a análise do contexto estratégico em que se inscreve o relatório do CFR, deve-se destacar que a proposta da inclusão do Brasil no clube dos membros permanentes do CSNU, não é apenas um reconhecimento objetivo da importância global do País, mas tem embutida uma intenção manifesta de cooptá-lo para um projeto de reestruturação do poder mundial em que permanecem intocados os axiomas fundamentais do atual sistema global. Por exemplo, o documento sequer menciona a crise do sistema financeiro e bancário internacional, que tem sido a base da hegemonia anglo-americana no cenário internacional e, na realidade, é o principal item de uma agenda de reformas necessária para proporcionar uma verdadeira mudança da ordem de poder mundial. E, muito menos, cita o inevitável recuo estratégico anglo-americano diante do visível fracasso das intervenções militares na Ásia Central e no Oriente Médio, que coloca em xeque a expansão da sua estratégia hegemônica baseada no controle de recursos naturais - diante da qual é bastante conveniente a opção de cooptar o Brasil como alternativa para o fornecimento desses recursos.

O controle hegemônico dos fluxos monetários

Assim, o CFR, ainda que aceite formalmente a realidade de um mundo multipolar, não abre mão da pretensão de perpetuar o esquema hegemônico baseado no sistema de "livre comércio" e no controle dos fluxos monetários e financeiros, que tem prevalecido desde a emergência e a consolidação da Inglaterra como poder colonial, no final do século XVII e início do XVIII. Sem uma reforma do sistema de bancos centrais "independentes", que surgiu com a criação do Banco de Inglaterra, em 1694, e a devolução aos governos nacionais da prerrogativa de emissão da moeda e do crédito, em paralelo com uma drástica redução do financiamento dos Estados nacionais pela emissão de títulos de dívida, nenhuma proposta de reformas globais pode ser levada a sério, nem terá qualquer impacto duradouro sobre a estrutura de crises em curso.

O Brasil exportador de matérias primas e potência ambiental



Em vez disso, o relatório deixa claro que a oligarquia anglo-americana gostaria de enquadrar o Brasil no molde de um grande exportador de matérias-primas e uma "potência ambiental", que abra mão da utilização plena dos seus recursos naturais para o desenvolvimento interno soberano do País e da América do Sul, pelo processo de integração regional. Neste particular, é relevante que, enquanto ignora a necessidade de um aprofundamento qualitativo e quantitativo da industrialização do País, o documento destaque o potencial de exportação de produtos primários - energia e alimentos - e a autoimposição de uma draconiana legislação ambiental, que nenhum país industrializado adotou, a começar pelos próprios EUA. Tal tendência é explicitada no trecho a seguir: "A floresta amazônica é, em si própria, um valioso recurso, que recicla dióxido de carbono para produzir mais de 20% do oxigênio do mundo."

Ou nas passagens seguintes:

 Os perfis energético e ambiental do Brasil estabeleceram o país como um importante ator internacional em dois dos desafios globais mais centrais e estreitamente interligados: a segurança energética e as mudanças climáticas. Com pelo menos 50 bilhões de barris de petróleo sob as águas brasileiras, 167 milhões de barris anuais de produção de etanol (e planos para aumentar a produção para mais de 400 milhões de barris até 2019), usinas hidrelétricas que fornecem 75% da eletricidade brasileira e a sexta maior reserva comprovada de urânio do mundo, o Brasil está destinado a tornar-se um significativo exportador de diversos produtos energéticos...

Uma estratégia “mexicana” para o Brasil

... a oferta do Establishment anglo-americano para promover o Brasil como "ator global" segue de perto o roteiro utilizado no final da década de 1980 e início da de 1990, para convencer o México a aderir ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), com a promessa de que o país se converteria em um membro destacado do "Primeiro Mundo" - e, ao mesmo tempo, um interlocutor preferencial com as demais nações da América Latina. O resultado desta pregação interna dos governos de Carlos Salinas de Gortari (1988-1994) e Ernesto Zedillo (1994-2000) foi a profunda crise que assola o México, que viu destruída a sua capacidade de produção de alimentos e enfrenta claros riscos de desintegração nacional. Ademais, nenhuma nação da América Latina aceitou a alardeada "liderança diplomática" do México, que passou a ser considerado como pouco mais que um porta-voz de políticas estadunidenses.

Para o Brasil não seria diferente: "Com o Brasil como membro permanente do CSNU, o Brasil e os EUA, necessariamente, trabalhariam juntos em todos os desafios importantes nas áreas da segurança internacional, desenvolvimento e questões humanitárias, criando, potencialmente, as condições para uma relação e cooperação bilaterais mais estreitas em uma gama de assuntos ainda mais vasta, inclusive, dentro da região."

Neste ponto, a verdadeira emergência do Brasil como ator global passa, necessariamente, pela consolidação e aprofundamento do processo de integração da América do Sul, que deve avançar a um sistema de união aduaneira, para defender o enorme mercado interno regional dos embates depredadores do "livre comércio" globalizado.

Multipolar, mas só com "livre comércio"

A iniciativa do CFR não é nem independente nem isolada, integrando um intenso debate que se trava no interior do Establishment anglo-americano, sobre os rumos que a ordem mundial poderá tomar a partir da atual crise financeira e bancária mundial. Isto fica evidente pelo fato de, simultaneamente ao relatório do CFR, uma proposta semelhante vem sendo feita pelo Establishment britânico, na linha de elevar o status brasileiro no CSNU.

Em um contexto mais amplo, em 20 de julho, o vice-chanceler Jeremy Browne proferiu, na Chatham House, um discurso intitulado "Navegando na Nova Ordem Mundial: o Reino Unido e as potências emergentes". A entidade, formalmente conhecida como Real Instituto de Assuntos Internacionais (RIIA), é uma instituição basilar do Império Britânico, que desde a década de 1920, juntamente com o CFR (criado à sua imagem e semelhança), integra o núcleo duro do chamado Establishment anglo-americano. De fato, a criação deste núcleo marcou a culminação do processo de cooptação dos EUA aos desígnios imperiais britânicos, no âmbito do processo de reformulação do imperialismo clássico, nas primeiras décadas do século XX.

O discurso de Browne teve como objetivo responder à pergunta: como a Grã-Bretanha, como potência mundial consolidada, deve responder à ascensão das potências emergentes e à nova ordenação de poder mundial que elas estão ensejando?

Para não deixar qualquer dúvida, Browne reafirma que "devemos assegurar-nos de não esquecer de que o livre comércio é central para a dinâmica que está reconfigurando a ordem mundial".

A insistência em colocar o sistema de "livre comércio" no núcleo a ser preservado dentro da reorganização da estrutura do poder global significa que as oligarquias hegemônicas que controlam o sistema financeiro mundial não estão dispostas a abrir caminho pacificamente ao advento de uma nova ordem substancialmente diferente do sistema que surgiu na consolidação da hegemonia mundial anglo-holandesa, ao final do século XVII. Vale recordar que, em uma espécie da pré-história do sistema de "livre comércio", enquadrava-se a pirataria, uma guerra naval irregular, por meio da qual as potências coloniais emergentes, Holanda e Inglaterra, minaram o poder econômico e financeiro do Império espanhol. A paz de Utrecht, em 1713, marcou a vitória das potências protestantes, Holanda e Inglaterra, sobre sua rival católica, a Espanha dos Habsburgo. A partir daí, predominou a hegemonia inglesa, baseada no "livre comércio" e no domínio dos oceanos.

A pirataria foi a forma incipiente do sistema de "livre comércio", mais tarde institucionalizado pelo sistema de bancos centrais "independentes", a partir da criação do Banco da Inglaterra. Isto, e não simplesmente uma crise cíclica do capitalismo, é o que está no núcleo da presente crise mundial. É evidente que a própria maneira de pensar, isto é, os sistemas de conceituação predominantes, estão em profunda crise e, portanto, não está claro para as elites hegemônicas um rumo certo e definido. É esta crise que está permitindo a emergência de novos atores, entre eles o Brasil, que podem conduzir uma verdadeira revolução, para corrigir efetivamente os rumos da Civilização, fora das matrizes coloniais livrecambistas.

Portanto, não é o eventual reconhecimento das potências hegemônicas que poderá levar o Brasil e as outras potências emergentes à condição de protagonistas da reconstrução da Civilização universal. As nações devem estar conscientes de que uma nova realidade mundial está para surgir, na qual os valores inalienáveis do homem, como a vida, a liberdade e a busca da felicidade, como estabelecido na Declaração da Independência dos EUA, juntamente com os princípios do Estado nacional soberano, deverão ser as bússolas que orientarão o processo civilizatório ao longo do século XXI.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A presidente Dilma e a governabilidade

No Vermelho uma análise do quadro político e das perspectivas do governo da presidente Dilma Roussef:


“O PT e o PMDB são a base do governo”. Esta pode ser considerada a frase mais importante a sintetizar a visão da presidente da República, Dilma Rousseff, sobre como assegurar a sua governabilidade, não só no momento político turbulento que vive o Brasil, resultante de pressões e da manifestação de terríveis vícios no trato da coisa pública, notórios em lideranças de determinados partidos que fazem parte da coalizão de governo. Parece ser também sua visão sobre as forças principais que a farão levar seu mandato a bom termo e, eventualmente, como é seu direito, postular a reeleição.

É natural que a presidente da República reafirme os pilares de sustentação do seu governo, quando ficou claro que a campanha da mídia golpista para que ela assuma os tiques de faxineira tem um objetivo claro: aumentar a instabilidade política, provocar cisões, semear intrigas e fazer com que se estabeleça uma imagem e, o que é pior, um ambiente de desgoverno, cenário mais propício aos pescadores de águas turvas, cassandras, aventureiros e golpistas.
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Por manobra política, e para jogar uma contra o outro, a crônica política está repleta de comparações entre os perfis de Dilma e Lula, sendo obviamente possível catalogar alguns aspectos desfavoráveis à presidente, em razão das diferenças de estilo e experiências distintas. Mas não se caia no simplismo de afirmar que a mandatária não é capaz de enfrentar os dilemas políticos da governabilidade. As respostas que deu nos últimos dias, inclusive rechaçando as armadilhas e a agressividade da mídia e da oposição, são reveladoras de que, a depender da sua decisão, firmeza e habilidade, a governabilidade de curto prazo estará assegurada.

Mas isto não encerra a solução dos problemas políticos de fundo do país. Do ponto de vista das forças da esquerda consequente e do movimento popular organizado, tais problemas não se esgotam nos dilemas imediatos nem na busca de uma governabilidade baseada apenas nos grandes partidos situacionistas e nas casas legislativas.
...

Reconhecendo a complexidade da situação e sem qualquer ânimo de exacerbação de contradições ou polêmicas, pensamos que o eixo principal em que se deve assentar a governabilidade do terceiro mandato democrático-popular é também os partidos de esquerda e as organizações do movimento popular, o que necessariamente não será resultado de barganhas, como pode acontecer nas relações entre os grandes partidos, nem de hegemonias previamente decretadas.

Será, antes de tudo, fruto da consolidação de convicções, da reafirmação de compromissos, da reiteração de plataformas de luta e trabalho que contemplem a defesa intransigente da soberania nacional, o aprofundamento da democracia e a promoção da justiça social. Há reformas democráticas estruturais inadiáveis que precisam entrar na agenda do governo e que podem constituir a base programática para uma aliança ampla e mobilizadora.

Para ler na íntegra, veja em: http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_editorial=962&id_secao=16

O princípio de Goebbels

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:

A grande maioria do planeta vive atualmente sob o guarda-chuva do chamado pensamento único que determina o que nós devemos comer, beber e como devemos consumir os produtos em geral. Dita as regras determinadas pelas necessidades e interesses do mercado global, o que é politicamente correto e aquilo considerado incorreto ou condenável em uma gradação quase matemática.
Essa bula sobre o comportamento, hábitos e opiniões dos cidadãos, substitui na prática os códigos legais das nações e as leis internacionais, quando não os levam a adequações errôneas e ao constrangimento jurídico.
Com a profunda crise econômica, social e política em que vive o neoliberalismo em decorrência da débâcle sistêmica do capital financeiro internacional, a promoção dessa cultura do pensamento único, substrato da nova ordem mundial, intensificou-se de maneira bem mais hostil.

Com as consequências e desmoralização das políticas neoliberais, recrudesceram as agressões militares do império norte-americano e seus atuais aliados Inglaterra, Itália, França e outras nações menos importantes.

Essas incursões armadas de posse e pilhagem dos territórios sempre são precedidas de bombardeio de um outro tipo, mas não menos violento, através da grande mídia hegemônica mundial que promove uma espécie de lavagem cerebral de desinformação sobre a realidade do País agredido e as verdadeiras intenções imperiais.

Qualquer cidadão medianamente esclarecido já sabe perfeitamente que a ação militar estrangeira contra a Líbia deveu-se às suas imensas reservas petrolíferas e do gás que abastece grande parte da Europa. Além do escandaloso sequestro dos bilionários ativos financeiros do Estado líbio.

O que caracteriza a atual intervenção a esse País como o maior assalto à mão armada da História da humanidade, independente de qualquer consideração que se faça sobre o governo Kadhafi.

Mas a campanha de desinformação promovida pela grande mídia hegemônica global, que poderia ser acusada de cúmplice pelo crime de violação ao Direito Internacional de Autodeterminação das Nações, superou o princípio de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler.

Goebbels dizia que era preciso repetir uma mentira tantas vezes, e até à exaustão, até que ela se transformasse em realidade. Essa tem sido a estratégia dos EUA, das nações europeias que participam das agressões militares através da OTAN e da grande mídia hegemônica internacional que se transformou no braço midiático do capital financeiro global.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Narcisistas da informação – uma discussão sobre as redes sociais


Texto da jornalista Lúcia Guimarães no Estadão comenta o artigo de Neal Gabler publicado num suplemento de domingo recente do New York Times. Diz ela que o artigo, sob o título A Elusiva Grande Ideia, lamenta que a Era da Informação tenha nos transformado em acumuladores de fatos e não pensadores.

Segundo Lúcia Guimarães o diagnóstico feito por Gabler é difícil de contestar. Ele descreve o narcisista da informação, a pessoa consumida pela auto-referência, com sua visão de mundo filtrada pela mídia social. É uma pessoa hiperantenada. Ao longo de um dia o narcisista da informação vai consumir fatos como: o amigo de Facebook no Sri Lanka passeia com o cachorrinho; um jovem sírio convocou um protesto pelo Badoo; um seguidor no Twitter acabou de compartilhar uma foto de Jennifer Anniston beijando o namorado num bar de Santa Mônica; George Clooney pede doações para combater a fome na Somália no YouTube. Ele é um falso cidadão do mundo porque adquirir informação sobre estranhos não é o mesmo que articular a compreensão do que não é familiar. O repertório desse homem informado daria vários sambas-enredo compostos por Stanislaw Ponte Preta, nos moldes do politicamente incorreto Samba do Crioulo Doido.

Acrescenta a jornalista – a comunicação fragmentada é antítese da gestação de grandes ideias. Afirma que estamos tão prostrados sob o peso da enxurrada de informação que, depois do esforço para recolher tantos fatos inúteis, não temos fôlego para tolerar desafios.

Destaca ela: “a era digital nos libertou para a ignorância bem informada. Tal como o personagem Chance, de Peter Sellers, em Muito Além do Jardim, que vivia em isolamento sob uma dieta de televisão, podemos impressionar nossos interlocutores regurgitando pensamentos não processados”.

As implicações sociais de um mundo que desdenha grandes ideias são enormes, sugere Neal Gabler, porque "as ideias não são apenas brinquedos intelectuais. Elas têm efeitos práticos".

Para ler o texto na íntegra: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,narcisistas-da-informacao,761799,0.htm

Aldo Rebelo discute Código Florestal em Maceió



A convite da direção estadual do PCdoB de Alagoas, na noite da quinta-feira, 18/08, o deputado federal do PCdoB por São Paulo, Aldo Rebelo, falou para uma plateia lotada, no auditório da Faculdade Maurício de Nassau, sobre o tema “A Questão Nacional e o Código Florestal”, com grande repercussão na imprensa alagoana.

Aldo Rebelo disse que no fundo estamos debatendo se o Brasil tem o direito de decidir como usufruir de seu solo, subsolo, de forma soberana e sustentável, ou subordinado a interesses que não são os nossos. Afirmou que, sem bravata, temos de cuidar dos interesses do povo e não deixar o legado de um país colonizado, destacando a premência e atualidade da batalha de ideias na construção política, econômica e social do país.

domingo, 21 de agosto de 2011

As jornadas rebeldes

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho, na Tribuna do Sertão e no Santana Oxente:



Os atuais acontecimentos econômicos, sociais e políticos que vão se desenrolando principalmente na Europa e nos Estado Unidos, representam a expressão mais crua das consequências brutais do reinado de quatro décadas da nova ordem mundial, do neoliberalismo e de um conjunto de outras doutrinas reacionárias, que ainda exercem uma implacável hegemonia a serviço da concentração, centralização e expansão do capitalismo em escala global.

Acontecimentos esses que não se expressam, com as mesmas características e intensidade com que se apresentam no primeiro mundo, em relação às principais nações emergentes, Brasil, China, Rússia, Índia e recentemente a África do Sul.

E ao que tudo indica essa diferenciação irá permanecer e se aprofundar porque estamos vivendo uma inversão das tendências do capitalismo, com evidente declínio das nações europeias e dos Estados Unidos em processo de paulatina decadência econômica, o que está acentuando cada vez mais a sua agressividade imperial e o seu intervencionismo militarista.

Vai surgindo uma situação em que as coisas tendem a se inverter, ficar de cabeça para baixo, em relação ao contexto anterior, onde as grandes nações emergentes, por condições determinadas, começam a transitar a um patamar mais elevado de crescimento e desenvolvimento, se prevalecerem orientações econômicas e políticas soberanas.

É, portanto, um período de crise, resistência e transição no tabuleiro geopolítico internacional, mas em que não podem ser descartadas tentativas de interrupções abruptas, incluindo agressões militares, especialmente por parte dos EUA e seu bloco mais alinhado, com o objetivo de interromper a própria crise e a ascensão dos outros atores no cenário internacional.

Mas durante esses tempos de hegemonia neoliberal a humanidade foi submetida a um processo regressivo da civilização humana onde se conjugam valores como o individualismo egocêntrico, a “intolerância pactuada” através da doutrina “politicamente correta” do multiculturalismo.

É a tentativa de impor às novas gerações uma época sem horizontes, que ao historiador Eric Hobsbawm mostrou-se como uma tendência ao “presente contínuo”, pragmática, sem causas , desprovida de solidariedade. O limbo.

As grandes jornadas de rebeldia que surgem nos Países indicam a tomada de consciência, por parte das nações, dos povos e dos trabalhadores de que é imprescindível a superação dessa “nova ordem” mundial injusta e acima de tudo perversa, através das utopias realizáveis.

sábado, 20 de agosto de 2011

Jornadas rebeldes - A vitória do povo vietnamita sobre a maior potência militar do mundo, os EUA



      
          Cidade de Saigon, Vietnã, 1975: vietcongs entram triunfantes em Saigon, após vinte anos lutando por sua independência
                                                                 
A tomada de Saigon pelas forças da Frente Nacional de Libertação, apoiadas por tropas da República Democrática do Vietnã (Vietnã do Norte), em 30 de abril de 1975, encerrou a Guerra do Vietnã, a maior derrota militar sofrida pelos EUA, com 58 mil mortos e mais de 300 mil feridos norte-americanos. No lado vietnamita, foram mais de 3 milhões de mortos e outros tantos milhões de feridos. A heroica resistência da população vietnamita surpreendeu o mundo e assegurou a espetacular vitória do Vietnã sobre a maior potência imperialista de todos os tempos, jogando por terra o mito da invencibilidade dos EUA no período pós-segunda guerra.

                                                               A FNL entra no palácio presidencial em Saigon

domingo, 14 de agosto de 2011

85 anos de Fidel, um soldado da luta de ideias

O último dos grandes estadistas, vivo, que durante o século XX influenciaram de forma marcante a vida dos povos, Fidel Castro completa 85 anos.

Reproduzo aqui matéria publicada no Vermelho:


O líder cubano Fidel Castro, ícone do século 20, comemora neste sábado (13) mais um aniversário. Ex-presidente da ilha, esse "soldado das ideias" chega aos 85 anos contrariando aqueles que insistiam em prever desde seu ocaso até uma morte prematura. Fidel, no entanto, continua bem vivo, lúcido e ativo.

Afastado do comando de Cuba desde 2006, ele abriu mão de seu posto à frente do Partido Comunista Cubano este ano, mas continua um observador atento do mundo, registrando seu pensamento por meio de suas reflexões. Além disso, suas ideias, bandeiras e realizações continuam a ser exaltadas no cotidiano da ilha e além - prova de que a ausência de cargos não sonegou-lhe a influência.

Sobrevivente de mais de 600 atentados contra a sua vida, Fidel é a parábola perfeita para a prórpia resistência cubana. Um homem cuja história pode contar também a saga de seu país.

Nascido no povoado humilde de Birán, no leste da ilha, Fidel é filho de um bem-sucedido imigrante espanhol, um latifundiário vindo da Galiza chamado Ángel Castro, e de uma trabalhadora que conseguiu emprego em sua fazenda, Lina Ruz.

Foi educado em colégios jesuítas, em Havana. Em 1945, ingressou na universidade para estudar Direito. Tornou-se conhecido por seus pontos de vista nacionalistas e de oposição à influência norte-americana em Cuba. Em 1950, começou a trabalhar como advogado.

Desde 1952, com a subida ao poder de Fulgêncio Batista, por meio de um golpe de Estado, Fidel fez oposição clandestina ao ditador. No ano seguinte, planejou um ataque ao quartel de La Moncada. Acabou preso com seu irmão Raúl Castro. Foi condenado a 15 anos de prisão.

Em 1955, anistiado, partiu para o exílio no México. Retornou a Cuba no ano seguinte, clandestinamente, chefiando uma fileira de 82 homens decididos a empreender a guerrilha revolucionária. Os guerrilheiros foram obrigados a se esconder nas montanhas de Sierra Maestra, mas obtiveram cada vez mais apoio civil.

Fidel Castro e seus comandados entraram em Havana em 1958 e terminaram por derrotar de maneira esmagadora Batista e o aparelho militar criado pelos Estados Unidos. No dia 1º de janeiro de 1959, o ditador fugiu do país.

Castro assumiu o governo e a partir de então criaria um modelo próprio para Cuba, que os próprios cubanos se encarregam de aperfeiçoar: um comunismo caribenho, alimentado pelo marxismo-leninismo, com uma base nacionalista legada por José Martí.

Lançou uma política de nacionalização de propriedades e empresas de estrangeiros e cubanos, com reforma agrária e amplos benefícios sociais, que levaram a pequena ilha caribenha a alcançar indicadores que a colocam ao lado dos países mais desenvolvidos. Cuba é hoje referência em áreas como educação, saúde e esportes.

O líder também estimulou a solidariedade internacional, o combate ao imperialismo e a integração regional. Seu humanismo revolucionário desagradou àqueles que não queriam conviver com uma alternativa bem sucedida ao capitalismo.

Assim como o socialismo cubano, Fidel resistiu às mais diferentes pressões - em especial ao bloqueio norte-americano - e manteve suas posições. Em 31 de julho de 2006, debilitado por uma cirurgia no intestino, transmitiu o poder ao irmão Raúl. Em 2008, renunciou oficialmente à Presidência. No mês de abril desse ano, abriu mão também do comando do Partido Comunista de Cuba.
 
"Fidel é Fidel, e não precisa de cargo algum para ocupar sempre o lugar no topo da história no presente e no futuro da nação cubana. Enquanto tiver forças para fazê-lo, e felizmente está na plenitude de seu pensamento político, a partir de sua modesta condição de militante do partido e soldado das ideias, continuará levando a luta revolucionária e aos propósitos mais nobres da humanidade", disse seu irmão Raúl Castro, que o substituiu nas duas missões.

O ex-presidente passou um período sem atividades públicas, dedicando-se apenas a escrever seus artigos - que já somam 361. No ano passado, contudo, voltou a aparecer, mostrando-se bem disposto e lúcido, desmentindo recorrentes boatos sobre sua saúde.

Sobre seu amigo Fidel, o escritor Gabriel Garcia Márquez escreveu: "Esse é o Fidel Castro que creio conhecer: um homem de costumes austeros e ilusões insaciáveis, com uma educação formal à antiga, de palavras cautelosas e modos tênues, incapaz de conceber nenhuma idéia que não seja descomunal".

Os últimos soldados da guerra fria

Dedicado aos cinco cubanos presos nos Estados Unidos, o livro Os últimos soldados da Guerra Fria, do escritor brasileiro Fernando Morais, será lançado no dia 23 de agosto em São Paulo, pela Editora Companhia das Letras.

De acordo com sua divulgação, o novo livro de Fernando Morais traz todos os elementos de suspense de um romance de espionagem, mas não contém uma só gota de ficção. “A partir da saga da Rede Avispa, um seleto grupo de agentes secretos cubanos que se infiltraram em organizações anticastristas em Miami, o autor nos leva a um incrível mundo de um trabalho perigoso e solitário.”

A orelha do livro acrescenta que a razão desta operação era coletar informação com o fim de prevenir ataques terroristas em território cubano e que, de fato, algumas destas organizações apresentadas como “humanitárias” participam de ações como enviar pragas contra cultivos na ilha, interferir nas transmissões da torre de controle do aeroporto de Havana, realizar atentados a bomba e outros do gênero contra Cuba.

Os últimos soldados da Guerra Fria conta a história desses agentes cubanos em território estadunidense e revela os tentáculos de uma rede terrorista com base na Flórida e células na América Central, que recebe apoio tácito de congressistas norte-americanos e a omissão de membros dos poderes Executivo e Judiciário dos Estados Unidos.

“Ao escrever uma história cheia de aventuras dignas dos melhores romances de espionagem, Fernando Morais mostra mais uma vez sua forma de fazer jornalismo de qualidade, com rigor investigativo, imparcialidade e uma narrativa literária sofisticada”, diz a Companhia das Letras.

Outra obra literária, que conta a história da CIA , de forma romanceada, e abrange um largo período de ações dos EUA contra Cuba é o livro O Fantasma da Prostituta, de Norman Mailer, uma das mais importantes consciências críticas de seu país, os Estados Unidos. Escritor e jornalista, ao lado de Truman Capote e Tom Wolf, Mailer renovou o jornalismo norte-americano, criando o gênero conhecido como jornalismo literário.

A obra O Fantasma da Prostituta – um romance da CIA permite uma compreensão do alcance da interferência das atividades secretas norte-americanas em diversos países e, em especial, em Cuba.

sábado, 13 de agosto de 2011

Presidente do BNDES enxerga dois cenários para a repercussão da crise no Brasil

Questionado sobre a repercussão da crise econômico-financeira global sobre o investimento no Brasil, Coutinho destacou que o banco não considera que a redução de consultas verificada no primeiro semestre seja estrutural. Segundo ele, o BNDES trabalha com dois cenários, um de crescimento reduzido nas economias de Estados Unidos, Europa e Japão e de manutenção do crescimento dos emergentes, com um avanço da economia chinesa de 9,3%. O segundo cenário, um pouco mais grave, aponta para uma crise maior entre os países desenvolvidos e uma desaceleração mais forte dos emergentes, com queda na demanda por commodities. Mas, mesmo no segundo cenário, Coutinho enxerga "efeitos ambíguos" sobre o Brasil. Se, por um lado, haveria o peso da balança comercial, por outro resultaria em menos pressão inflacionária, segundo ele.

"Pode abrir perspectiva de o Banco Central iniciar uma redução de juros mais cedo. Toda conjuntura tem seus prós e contras", afirmou Coutinho, evitando fazer previsões sobre uma possível queda da taxa básica de juros. "O momento é muito mais de cautela e observação. O que constatamos é que os instrumentos que o governo tem hoje para enfrentar um cenário menos favorável são instrumentos bastante fortes", acrescentou.

(no Valor online)

Do multiculturalismo à aculturação

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


Os fenômenos sociais, políticos e econômicos provocados pela atual crise financeira do capital internacional já são de abrangência global e de gravíssimas consequências. Seu epicentro deu-se nos Estados Unidos, espalhou-se pela Europa e Ásia, mas afetará em maior ou menor escala todos os outros continentes.

Nesta quarta-feira a França, uma das economias centrais da comunidade europeia ao lado da Alemanha e do Reino Unido, sofreu violento ataque especulativo expondo o tamanho do rombo da sua dívida pública com imprevisíveis reflexos na descida ladeira abaixo da economia no velho continente.

Tudo isso com a grande mídia hegemônica internacional, bem ao estilo do senhor Murdock, o todo poderoso mega-empresário multimídia e os seus poderosos órgãos de comunicação espalhados pelo planeta, tentando minimizar ou tergiversar sobre esses acontecimentos de extraordinária gravidade que terão reflexos em todos os Países, cidadãos e trabalhadores deste planeta.

Algumas coisas podem ser tidas como inevitáveis nos próximos dias, em algumas semanas ou meses. Por exemplo, a Alemanha, a França e a Grã-Bretanha vão seguramente ser atingidas em cheio por esse cataclismo financeiro e a crise será ainda mais extensa e profunda.

A outra questão é o violento impacto social que essa crise sistêmica do capital provoca por onde vai passando. Os levantes populares que estão sacudindo e incendiando Londres e a periferia de outras cidades inglesas, com milhares de presos e várias mortes, não resultam de “lutas étnicas” como distorce a grande mídia hegemônica mundial.

Eles são consequência direta do desemprego generalizado e da situação deprimente em que se encontram os trabalhadores imigrantes na Inglaterra e em toda a Europa. As revoltas na Inglaterra possuem as mesmas raízes dos levantes de trabalhadores estrangeiros em Paris há poucos anos atrás e devem se estender por quase todos os grandes centros europeus.

Esses trabalhadores imigrantes são africanos, turcos, árabes, latinos como Jean Charles, o brasileiro fuzilado no metrô de Londres, na paranoia dos efeitos colaterais das agressões imperialistas.

Estão submetidos a péssimas condições de vida e aculturados, uma força de trabalho aviltada e globalizada na centralização e expansão do capital internacional. São os personagens desse apartheid “civilizado e pós-moderno” da doutrina do multiculturalismo. E os que criaram essa doutrina agora vão extinguindo-a ao porrete e à bala.

Aldo Rebelo debate em Maceió a Questão Nacional e o Código Florestal


A direção estadual do PCdoB de Alagoas convida a todos os militantes, amigos, e toda a sociedade alagoana para estarem presentes na próxima quinta-feira, 18 de agosto, às 19:00 hs, no auditório da Faculdade Maurício de Nassau, na R. Prof. Sandoval Arroxelas, Ponta Verde, quando o deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, relator do Novo Código Florestal, o alagoano Aldo Rebelo falará sobre a Questão Nacional e o Código Florestal.

Morre o amigo, médico, poeta, ex-preso político, militante do PCdoB, Chico Passeata

Do Vermelho:

A morte do ex-preso político Francisco Monteiro,  conhecido por “Chico Passeata”, na madrugada desta sexta-feira (12), em Fortaleza (CE), aos 63 anos, vítima de câncer, repercutiu nacionalmente. A presidente Dilma Rousseff noticiou o fato em seu blog, destacando que Chico Passeata era médico sanitarista e poeta. Atuou como militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) contra a ditadura militar, chegando inclusive a ser preso.

Em Fortaleza, a repercussão da morte foi grande. Políticos, artistas e médicos participaram do velório e falaram da perda que representa para a luta pela democracia e para a área da saúde a morte de Chico Passeata.

O deputado Chico Lopes (PCdoB-CE) lamentou a perda do histórico militante comunista no Ceará. “A luta por uma sociedade mais justa e igualitária se viu desfalcada de um de seus grandes protagonistas no Ceará”, disse o parlamentar, contemporâneo de Chico Passeata, com quem compartilhou muitos momentos de luta. “Monteiro foi, além de um exemplar militante do PCdoB, um amigo que jamais será esquecido”, afirmou.

“Ele foi um bravo militante, um lutador das causas populares durante toda a vida, inclusive enfrentando prisões e tortura. Chico Passeata nunca mudou seu modo de ver a luta por uma nova sociedade, com uma vida melhor para as pessoas”, declarou Chico Lopes, emocionado pela perda do amigo”, disse ainda Lopes, manifestando grande emoção ao lembrar as lutas vividas juntos.

O presidente do PCdoB do Ceará, Patinhas, disse que o falecimento dele é uma grande perda para a família, para os amigos e para o Partido. “A figura dele ficará gravada e será referência para que a gente continue a luta por uma saúde de mais qualidade e mais democracia no Brasil”, disse Patinhas, destacando a personalidade cordial do camarada.

Patinhas lembrou que, após a anistia, Chico trabalhou com ele na reorganização do PCdoB no Ceará, e atuou muito forte, a nível nacional, pela criação do Sistema Único de Saúde e durante todo o tempo pelo fortalecimento do SUS . “É uma tristeza muito grande para o mundo político e para os que militam na área de saúde”, finalizou.

Os colegas e admiradores destacavam, em suas falas, as qualidades do amigo: “Será sempre lembrado pelo seu espírito de luta e compromisso com as causas sociais. Lutou pelas liberdades democráticas desde a juventude até os dias atuais. Que esse exemplo de vida possa motivar as atuais e futuras gerações”, disse Eliude Oliveira.

“Na vida, a luta pela vida de todos foi o motor de sua existência. As injustiças enfrentou-as com a poesia e fez das estrofes de sua vida um ode ao compromisso com todos. Você não sai da luta. Você se multiplica em muitos de nós”, acrescentou o também amigo médico Eduardo Santana.

Aqui, minhas recordações do amigo e uma homenagem à grande figura humana:

Chico Passeata

Quando conheci Chico Passeata, creio que no auge da luta pela Anistia, tive a incrível sensação de que já o conhecia desde sempre. Parecia que não se tratava de uma apresentação, mas de um reencontro com uma figura muito singular e amiga.

Militante entusiasmado com as causas que abraçava, principalmente na área da saúde e do movimento sindical, Chico Passeata era um poeta de mão cheia. Presenciei várias vezes surgirem belos poemas de um guardanapo de papel em algum restaurante ou botequim em Maceió, em Brasília e outras cidades do nosso Brasil.

A exemplo de inúmeros companheiros, eu também encontrava o Chico Passeata nos corredores do Congresso Nacional durante a Assembléia Nacional Constituinte além dos encontros nacionais e regionais dos movimentos populares que aconteciam sistematicamente durante os anos oitenta passados.

Chico era firme com as suas idéias e carregava consigo uma imensa bagagem de generosidade humana, solidariedade para com as pessoas e muita, mas muita alegria de viver. Olhava a vida com a razão das coisas e o sentimento do poeta.

A imagem do Chico Passeata que carrego em minhas lembranças são essas, além do seu indefectível chapéu Panamá, os seus inseparáveis suspensórios e uma gostosa, estrondosa gargalhada até para com as coisas menores, mais cotidianas da vida. Um grande e forte abraço velho Chico Passeata.

Eduardo Bomfim

domingo, 7 de agosto de 2011

A queda dos falsos paradigmas

Meu artigo publicado na Gazeta de Alagoas, no Vermelho e na Tribuna do Sertão:


O que transparecia óbvio realmente está acontecendo, a crise da economia internacional vai se aprofundando paulatinamente atingindo um número cada vez maior de Países.

Nesta semana a Espanha e a Itália foram sacudidas por violentos ataques especulativos cujos resultados serão em maior ou menor grau semelhantes aos que levaram à bancarrota financeira Portugal, Grécia, Irlanda e a Hungria que quarta-feira declarou-se insolvente pedindo moratória por um ano.

Já os Estados Unidos amargam uma recessão profunda associada a uma crise dos rumos políticos que se mostrou mais evidente com os episódios sobre o aumento do teto da sua dívida pública de trilhões de dólares.

Outros fatores vão se sobressaindo na atual crise econômico-financeira norte-americana: a força crescente da direita fundamentalista, em especial o Tea Party, e o rápido declínio de um presidente extremamente fraco.

Obama galvanizou os eleitores dos EUA, foi vendido ao planeta pela grande mídia global como um novo líder mundial, mas que na verdade mostrou-se um obcecado em servir ao capital financeiro e ao complexo industrial militar norte-americano através de agressões militares imperiais.

Essa crise do capitalismo não é conjuntural, fruto de alguma catástrofe natural ou decorrente de uma epidemia que esteja afetando em escala mundial a humanidade, as colheitas ou rebanhos de animais.

Ela é inerente ao sistema capitalista que ciclicamente provoca desastres tremendos entre as nações e as sociedades. A estratégia de recuperação sempre será a de mais cortes nos gastos sociais e aumentos dos impostos provocando o empobrecimento das classes trabalhadoras e segmentos médios.

A tendência atual será de um aumento fantástico de riquezas em mãos de uma minoria de especuladores. A outra resultante dessa crise financeira global é o desmascaramento da Nova Ordem Mundial e suas doutrinas, tais como o neoliberalismo e o multiculturalismo.

As gerações com menos de quarenta anos de idade cresceram (e combateram) sob a hegemonia de falsos paradigmas econômico-culturais, que impuseram ao mundo e ao Brasil um discurso de civilização extremamente individualista, fragmentada, intolerante e regressiva.

Nesses tempos de crise, mas fundamentalmente de resistência social e transição a um novo cenário internacional, surgem as condições para que avancem as lutas nacionais e populares por um mundo melhor e mais justo.

sábado, 6 de agosto de 2011

Presidente do BNDES diz que é hora de baixar os juros

Diante da possibilidade de uma nova crise econômica internacional, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu em evento do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), nesta sexta-feira, 05/08, que a trajetória de alta da taxa básica de juros brasileira seja interrompida. “Não é mais sensato pensar em subidas adicionais da Selic no cenário que estamos vivendo agora”, afirmou Coutinho.

O processo de alta da Selic começou em janeiro deste ano e continuou nas últimas cinco reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. No período, a taxa variou de 10,75% a 12,50%. Até então, sem perspectivas de um quadro mais pessimista das economias americana e europeias, o mercado vinha projetando uma Selic a 12,75%, valor que deve começar a ser revisado.

Coutinho considerou que a situação internacional é frágil e que o mundo está à beira de um episódio de duplo mergulho e de paralisia do crédito, afirmando que espera que isso não aconteça, mas que infelizmente a agenda e a atitude dos líderes europeus realmente levam a temer um quadro mais complicado para a economia global.

O presidente do BNDES ressalvou que as implicações das condições atuais para o Brasil são diferentes daquelas vividas na crise de 2008, que explodiu com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. Segundo ele, “o mundo agora conhece a robustez da economia nacional, e o Brasil sabe de sua capacidade para superar a crise”.

Ele disse ainda que, diante desse cenário, seria insensato que as economias em desenvolvimento pisassem no freio. “Mais do que nunca elas precisam manter uma taxa de crescimento e fazer um freio muito suave”, recomendou Coutinho, segundo notícia publicada no Valor online.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Presidente rende-se

O sítio português ODiario.info apresenta texto de Paul Krugman, que havia sido publicado no New York Times de 31/07:


Mesmo entre os economistas burgueses, só os radicais neo-liberais não querem compreender que enfrentar o problema do déficit público à custa do corte brutal na despesa conduz necessariamente ao aprofundamento da crise. É assim em Portugal, é assim nos EUA, com a nova capitulação de Obama perante a extrema-direita republicana. Mas o mais interessante neste texto de Paul Krugman é uma conclusão que tem igualmente paralelo no nosso país: enfrentar a crise pela via da radicalização da exploração não conduz apenas a economia ao desastre. Conduz também a democracia ao colapso.

Paul Krugman

Está em elaboração um acordo para elevar o teto do endividamento federal. Se vier a se concretizar, muitos comentadores irão afirmar que se evitou o desastre. Mas estarão errados.

Porque o acordo, a julgar pela informação disponível, é um desastre, e não apenas para o Presidente Obama e para o seu partido. Irá afetar uma economia já de si deprimida; irá provavelmente tornar pior o problema norte-americano do déficit de longo prazo, em vez de o melhorar; e, mais importante do que todo o resto, pelo fato de mostrar que a mais crua extorsão funciona e não acarreta custos políticos, dará um forte impulso à trajetória que conduz os EUA ao estatuto de república das bananas.

Comecemos pela economia. O que temos atualmente é uma economia em profunda depressão. Quase de certeza que continuaremos a ter uma economia deprimida ao longo de todo o próximo ano. E iremos provavelmente ter uma economia deprimida em 2013, se não mais além ainda.

O pior que pode fazer-se nestas circunstâncias é cortar na despesa pública, porque isso irá aprofundar ainda mais a depressão econômica. Não dêem ouvidos aos que invocam a fada da confiança, afirmando que uma intervenção orçamental drástica aumenta a confiança das empresas e dos consumidores, levando-os a aumentar o consumo. De fato, não é assim que funciona, como o confirmam muitos estudos sobre o registo histórico da economia.

De fato, cortar na despesa quando a economia se encontra em depressão nem sequer resolve grande coisa na situação orçamental, e até pode muito bem agravá-la. Por um lado, as taxas de juro dos empréstimos federais soam muito baixas e portanto os cortes na despesa pouco contribuem para reduzir o custo dos juros futuros. Por outro lado, enfraquecer a economia neste momento irá afetar as suas perspectivas de longo prazo, o que por sua vez irá reduzir as receitas futuras. Por isso, aqueles que agora reclamam cortes na despesa agem como os médicos medievais, que tratavam os doentes sangrando-os e, dessa forma, tornando-os ainda mais doentes.

Depois, temos ainda os termos do acordo conhecidos até agora, que constituem uma abjecta rendição por parte do presidente. Primeiro, haverá grandes cortes na despesa sem qualquer acréscimo na receita. Depois, um painel irá elaborar recomendações para uma posterior maior redução do déficit – e se essas recomendações não forem aceitas haverá mais cortes na despesa.

                                                     extrema-direita republicana se manifesta

Supõe-se que os republicanos terão um incentivo para fazer algumas concessões na próxima ronda, uma vez que as despesas com a defesa estão entre as áreas sujeitas a cortes. Mas o G.O.P (Grand Old Party, o partido republicano) acaba de demonstrar a sua disponibilidade para correr o risco de um colapso financeiro se não conseguir tudo aquilo que a sua ala mais extremista reivindica. Haverá razão para esperar que numa próxima ronda irão mostrar-se mais razoáveis?
                                                                            
De fato, os republicanos irão certamente sentir-se encorajados pela forma como o sr. Obama acumula cedências perante as suas ameaças. Rendeu-se em dezembro passado, prolongando todos os cortes fiscais de Bush; rendeu-se na primavera quando eles ameaçaram bloquear o governo; e rendeu-se agora em grande escala perante a crua extorsão em torno do teto do endividamento. Pode ser que seja só eu, mas identifico nisto um padrão de comportamento.

Tinha o presidente alguma alternativa desta vez? Tinha.

Primeiro que tudo, podia e devia ter pedido um acréscimo no teto de endividamento logo em dezembro. Quando lhe foi perguntado porque é que não o tinha feito respondeu que estava seguro que os Republicanos iriam agir responsavelmente. Bela aposta.

E mesmo agora a administração Obama podia ter recorrido a instrumentos legais que lhe permitiriam contornar o teto de endividamento, para o que tinha numerosas opções disponíveis. Em circunstâncias normais isso representaria um recurso extremo. Mas perante a realidade do que está a suceder, nomeadamente a crua extorsão por parte do partido que, no fim de contas, apenas tem o controle de uma das câmaras do Congresso, tal ação seria totalmente justificável.

No mínimo, o sr. Obama poderia ter feito uso da possibilidade de um impasse legislativo para reforçar a sua posição negocial. Em vez disso, no entanto, o que fez foi pôr de lado todas essas opções desde o início.

Mas assumir uma posição dura não iria preocupar os mercados? Provavelmente não. De fato, se eu fosse um investidor sentir-me-ia não desanimado mas confiante perante uma demonstração de que o presidente está disposto e tem condições para fazer frente à chantagem promovida por extremistas de direita. Em vez disso, ele optou pela atitude contrária.

Não haja qualquer dúvida: aquilo que se passa perante nós neste momento constitui, a múltiplos títulos, uma catástrofe.

É, evidentemente, uma catástrofe política para os Democratas, que há algumas semanas pareciam ter os Republicanos em debandada em resultado do seu plano de desmantelamento do Medicare; o sr. Obama, neste momento, desbaratou tudo isso. E os danos não acabaram: haverá mais momentos de impasse em que os Republicanos poderão ameaçar criar uma crise se o presidente não se render, e agora podem agir com a confiante expectativa de que ele o fará.

A longo prazo, no entanto, os Democratas não serão os únicos derrotados. Aquilo que os Republicanos acabam de conseguir põe em causa todo o nosso sistema de governo. Afinal de contas, como pode a democracia americana funcionar se quem acaba por ditar a política será o partido, seja ele qual for, que esteja melhor preparado para agir da forma mais implacável e para pôr em causa a segurança econômica do país? E a resposta é que provavelmente não poderá.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

EUA em crise e declínio histórico

Editorial desta terça-feira, 02/08, do Vermelho:

Duas deputadas do Partido Democrata deram uma indicação do sentimento e contradições que envolvem a solução negociada para o impasse sobre a elevação do teto de endividamento do governo dos EUA, que oscila perigosamente à beira do precipício neste início de agosto.

O lado emocional foi demonstrado pela congressista Eleanor Holmes Norton que respondeu à pergunta de um repórter dizendo: “não penso, só choro”. A postura da líder democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, foi mais política e, de certa forma, realista. Ela criticou o acordo acertado entre as lideranças democratas e republicanas neste final de semana, e aprovado pela Câmara na segunda-feira; o plano, disse, faz cortes no orçamento nocivos à saúde econômica do país e vai sacrificar gastos sociais, mas não tira “nem um centavo” dos mais ricos do país. Agora o projeto precisa ser aprovado pelo Senado, onde o governo de Barack Obama tem uma maioria estreita.

A gravidade da situação econômica dos EUA tem uma longa história e vários agravantes que levam muitos analistas a supor que o acordo aprovado pela Câmara não passa de um “band-aid”, como disse um deles.

Ela resulta da farra do dinheiro fácil que comandou a economia nas últimas décadas e permitiu aos mais ricos multiplicar seu patrimônio, enquanto os mais pobres viram seus salários e benefícios diminuírem, embora tenham sido incentivados a incrementar seu consumo aumentando suas dívidas. Um primeiro resultado dessa receita nefasta foi a crise de 2007/2008, que contaminou o mundo e expôs as fragilidades da economia dos EUA, onde o crescimento do patrimônio dos mais ricos esteve baseado nos sucessivos cortes de impostos promovidos desde o governo de Ronald Reagan, na década de 1980, na queda da renda dos trabalhadores e nos cortes dos gastos sociais do governo.

Além disso, neste período o governo dos EUA aumentou como nunca seus gastos militares que, hoje, alcançam – segundo analistas independentes – a himalaica quantia de US$ 1,5 trilhão, um valor que corresponde ao déficit orçamentário norte-americano, iguala o PIB (soma de tudo o que é produzido em um ano) do Brasil, e é gasto fundamentalmente nas agressões contra o Iraque e o Afeganistão e na manutenção de 560 bases militares pelo mundo afora, e também de dispositivos militares mobilizados contra os povos, como a 4ª frota que ameaça o Atlântico Sul e a costa brasileira.

Há décadas que os analistas mais argutos denunciam que os EUA vivem do parasitismo, com um nível de consumo e de gastos fora de sua capacidade produtiva. O impasse vivido desde o mês de maio, quando o governo de Washington chegou ao limite de sua capacidade de endividamento (de US$ 14,3 trilhões), ameaçava o mundo com uma crise econômica de gravidade nunca vista. O horizonte de calote podia empurrar o mundo ainda mais fundo no buraco negro representado pela enferma economia dos EUA.

A solução aprovada pela Câmara empurra os problemas para a frente sem resolvê-los. São problemas de uma potência em declínio que se defronta com impasses internos e, mais do que isso, com o empenho da classe dominante em manter sobre o mundo o mesmo domínio e a mesma exploração que se acentuaram desde a proeminência alcançada pelos EUA no final da 2ª Grande Guerra, há 65 anos, e aparentemente reforçada com a dissolução da URSS, há duas décadas.

Impasse que opõe, de um lado, as aspirações democráticas e, de outro, o fundamentalismo neoliberal republicano (cujo extremo é a direita radical representada pelo Tea Party), que rejeita qualquer taxação dos mais ricos e do capital, não aceita cortes nos gastos militares, quer dogmaticamente o estado mínimo e defende com unhas e dentes a herança neoliberal de Reagan e Bush, mantida em suas linhas fundamentais por Barack Obama.

O acordo acertado entre democratas e republicanos, que prevê cortes orçamentários de mais de US$ 2,4 trilhões em dez anos, mas mantém intocados os patrimônios e a renda dos mais ricos, empurrou o risco para o futuro imediato. A crise da dívida dos EUA repete o mesmo roteiro já enfrentado pelos países da América Latina e outros do chamado Terceiro Mundo e que foi enfrentado com ajustes neoliberais draconianos para os povos e os trabalhadores e favoráveis aos interesses dos donos do dinheiro no mundo. As diferenças são a escala, que envolve valores vertiginosos e que podem empurrar todas as economias nacionais para dificuldades enormes, e o fato de que o alvo do dogmatismo neoliberal é constituído agora não por populações de países da periferia do mundo capitalista, mas pelo povo que habita a nação que constitui o coração desse sistema – os trabalhadores dos EUA.

Lucro dos bancos cresce enquanto a desindustrialização avança

Artigo publicado no Vermelho:


Enquanto a indústria vai mal das pernas, com a produção recuando e a chamada desindustrialização avançando no rastro do câmbio valorizado, os bancos seguem de vento em popa. O lucro líquido do Itaú Unibanco atingiu R$ 7,133 bilhões no primeiro semestre, com alta de 11,5% no confronto com igual período no ano passado.

Já o Bradesco registrou lucro líquido de R$ 5,487 bilhões no primeiro semestre, com crescimento de 21,7% ante o resultado contabilizado no mesmo período em 2010, segundo informações divulgadas na semana passada. E mesmo o espanhol Santander, que comprou o Banespa e no momento amarga uma redução de 21% em seus lucros devido à crise do capitalismo europeu, no Brasil obteve alta de 7,6% no lucro do semestre, abocanhando 1,381 bilhão de euros, o que significa nada menos que um quarto do resultado global do grupo.

Ah, é claro que a mais-valia apropriada por aqui pelo Santander foi remetida ao exterior para cobrir prejuízos da matriz, cuja saúde anda abalada e ameaçada pela situação nada confortável da Espanha e de toda a Europa. Contribuiu para expandir o déficit em conta corrente, mas... falar o que, não é esta a regra do jogo do capitalismo internacional?

Os resultados, num quadro de desaceleração econômica e retração da produção industrial (que caiu 1,6% em junho em relação a maio), são sintomáticos dos privilégios desfrutados pelo sistema financeiro na economia nacional. Eles se beneficiam dos juros altos determinados pelo BC, e também abusam dos spreads, cobrando taxas significativamente superiores às da Selic e escandalosamente altas. Praticam algo que pode ser definido apropriadamente como agiotagem.

Evolução

A carteira de crédito do Itaú Unibanco, incluindo operações de avais e fianças, alcançou R$ 360,107 bilhões ao final de junho, com expansão de 4,4% em relação ao saldo no primeiro trimestre e de 22,3% ante o mesmo período do ano anterior.

No segmento de pessoas físicas, os destaques no segundo trimestre foram as carteiras de crédito imobiliário e de crédito pessoal, com crescimentos de 18,4% e 12,8%, respectivamente.

Já no período de 12 meses, aparecem as carteiras de cartão de crédito, crédito pessoal e crédito imobiliário, com evoluções de 22,8%, 34,7% e 73,2%, respectivamente.

Na análise dos clientes pessoas jurídicas, a carteira de grandes empresas apresentou evolução de 3,1% no trimestre e de 20,6% nos últimos 12 meses, enquanto a carteira de micro, pequenas e médias empresas registrou aumentos de 4,3% e 26,2% nos mesmos períodos.

O índice de inadimplência total, considerando apenas operações com atraso superior a 90 dias, atingiu 4,5% em junho, puxado pelo desempenho das micro e pequenas empresas, acima de março (4,2%) e levemente inferior ao resultado no mesmo mês no ano passado (4,6%).