domingo, 6 de maio de 2012

Aquecimento global: as previsões furadas de Lovelock

Texto de José Carlos Ruy, publicado no Vermelho:

E a Terra não esquentou...

James Lovelock é um dos gurus da tese segundo a qual o aquecimento global, provocado pelo homem, vai esturricar a Terra. Agora, diz que estava errado. Um erro de consequências políticas monumentais.

James Lovelock é um dos principais ideólogos do catastrofismo ambiental em nossos dias e um dos gurus do movimento ambientalista. Autor de inúmeros livros, formulador da hipótese Gaia, que vê a Terra como se fosse um enorme organismo, ele é um cientista influente que chegou a prever a morte de bilhões de pessoas devido às mudanças climáticas que, em sua opinião, iriam esturricar o planeta. Foi um dos formuladores da tese de que a mudança climática decorre da ação humana sobre o ambiente.

Ele chegou a propor, em 2004, que o que restasse da humanidade só conseguiria viver no Ártico, onde o clima continuaria “tolerável”. E pregava, na linha do mais radical ambientalismo, a necessidade de um “melhor uso dos recursos” da Terra e isto significava, desde as reuniões do Clube de Roma, em 1968, e da ONU em Estocolmo, 1972, a contenção do desenvolvimento da economia. Isto é, contenção do desenvolvimento econômico dos países pobres, para, usando palavras de Lovelock, “sustentar a civilização o máximo de tempo” possível. A palavra “civilização” esconde, nesta frase, aquilo que realmente seu autor quer dizer: os países ricos e o modo de produção capitalista.

Lovelock é, assim, um dos principais - se não o principal - defensores da tese de que o aquecimento global decorre da ação humana. Na verdade, era. Numa entrevista ao site da rede americana MSNBC, em 23 de abril passado, o cientista britânico, de 92 anos de idade, na qual renegou o catastrofismo climático e ambiental e admitiu que exagerou. Reconheceu, sem rodeios: "Tudo bem, cometi um erro."

Naquela entrevista ele disse que o comportamento do clima da Terra desde o ano 2000 contrariou suas previsões mais pessimistas; admitiu que os estudos a respeito são insuficientes, faltando mais pesquisas para entender o futuro do planeta. Reconheceu ter ido “longe demais na extrapolação” sobre o aquecimento global, quando deveria ter sido mais cauteloso. "O problema é que não sabemos como o clima atua, embora achássemos que sabíamos 20 anos atrás. Isso levou à publicação de livros alarmistas, inclusive os meus", disse.

Além de sua própria postura catastrofista, Lovelock acusa também o ex-vice-presidente americano Al Gore e seu filme "Uma Verdade Inconveniente" como exemplo do alarmismo ambientalista.

"O clima continua fazendo os seus truques de sempre. Não tem nada de muito emocionante acontecendo agora. Deveríamos estar a meio caminho de fritarmos", mas não é isso que está acontecendo, disse. Ele estranha o fato de que a temperatura global da Terra não tenha aumentado nos últimos doze anos, embora os níveis de gás carbônico (ou dióxido de carbono) na atmosfera, demonizado como o principal gás do efeito estufa, continuam subindo e batendo recordes. O aquecimento previsto para os doze anos seguintes a 2000 não ocorreu. "Doze anos é um tempo razoável”, e a temperatura tem permanecido constante.

Embora sem abrir mão da tese de que as emissões humanas de dióxido de carbono possam levar a um aumento global na temperatura, ele concorda agora que faltaram estudos a respeito do efeito dos oceanos sobre o clima. O oceano pode ter um papel fundamental, admite. "Ele poderia fazer toda a diferença entre uma idade quente e uma idade do gelo", disse.

Há uma pergunta no ar: foi um erro? Lovelock foi um dos principais formuladores do ambientalismo como ideologia, baseado num “santuarismo” paralisante do desenvolvimento particularmente de países pobres, entre eles a China, a Índia e o Brasil. Entre a ciência e a política, sua ação abandonou a primeira para reforçar o conservadorismo capitalista dominante e a defesa da manutenção da distribuição do poder político e econômico no mundo a favor das potências industriais capitalistas.

Ele foi um dos principais esteios da condenação dos cientistas que não aceitavam a tese dos adeptos da corrente principal do pensamento ambiental segundo a qual a mudança climática seria resultado da ação humana. E que tentaram desqualificar esses críticos impondo-lhes o rótulo de “céticos”.

O rolo compressor de um autointitulado “consenso científico” simplesmente desconsiderou as críticas científicas solidamente fundamentadas que recusavam as “verdades” dogmáticas deste verdadeiro evangelho do santuarismo ambientalista que é o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o organismo da ONU dedicado ao problema) onde os questionamentos feitos pelos cientistas foram simplesmente ignorados. Lovelock foi um dos pilotos desse rolo compressor do conservadorismo ambientalista. Neste sentido, falar em “erro” pode ser simplório pois, na verdade, tratava-se de um dogma político que precisava ser impingido a países que defendiam seu direito ao desenvolvimento combinado com a defesa do meio ambiente. No mundo posterior à crise econômica de 2007/2008 e do rearranjo do quadro geopolítico internacional que veio na esteira dela, os dogmas do rolo compressor do aquecimento global simplesmente perderam o sentido e não colam mais. Qual será, agora, o próximo erro?

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