quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Luciano Siqueira: Drama brasileiro inserido na crise mundial

Artigo de Luciano Siqueira, publicado em seu blog:


Olhar apenas a parte e subestimar ou desconhecer o todo – essa expressão comum da análise distorcida da realidade – é elemento presente na narrativa dos que promoveram o impeachment e persiste em meio aos crescentes embaraços do governo Temer diante da impossibilidade de entregar o que prometeu.

Antes, todas as agruras da economia brasileira decorriam supostamente de erros da presidenta Dilma e do seu governo, então submetido a uma análise unilateral, superficial e tendenciosa. Quase nenhuma palavra sobre a crise global na qual o Brasil estava e continua inserido.

Agora, uma cantilena que tem como alvo políticas sociais básicas e distributivas, apontadas como causa exclusiva do desequilíbrio das contas públicas, oculta a sangria da poupança nacional decorrente de juros estratosféricos da dívida pública, que de 2003 até hoje, se traduz numa transferência de R$ 3 trilhões (em valores atualizados) aos bancos privados!

Quando até o ex-presidente do Banco Central no governo FHC Armínio Fraga, um dos arautos do figurino neoliberal e porta-voz credenciado do mercado financeiro, já reconhece de público sua frustração diante dos atrapalhados seis meses de governo Temer, as coisas não vão nada bem.

Vão muito mal. Não apenas pela incompetência de Temer e seu grupo, mais ainda porque a crise brasileira é parte indissociável da crise global, ainda que tenhamos cá nossas peculiaridades.

E evolui num contexto mundial – como bem assinala em artigo recente o presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo – onde se destacam três tendências fundamentais: “1) Decomposição estrutural relativa da hegemonia unipolar dos Estados Unidos, com crescente multipolarização do sistema de relações internacionais e a emergência de novos pólos de poder, que não compunham o núcleo central; 2) Grande crise sistêmica do capitalismo, desde 2008, mais profunda do que a de 1929, ainda sem superação à vista, prevendo-se ainda longo período de incertezas; 3) Crescimento gigantesco das forças produtivas, a serviço de sociedades cada vez mais desiguais, culminando na denominada Indústria 4.0, ou a ‘quarta revolução industrial’.”

As falas de Temer e do ministro Henrique Meirelles, dias atrás, no reformado (para dar larga predominância às forças do “mercado”) Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, são uma mostra eloquente de uma dupla de mediocridade dos atuais governantes: a miopia diante da gravidade dos fenômenos que incidem sobre a nossa economia; e o compromisso quase que exclusivo com o sistema financeiro.

Aos bancos e aos senhores da usura, tudo! Às alternativas antirecessivas e às políticas sociais compensatórias e inclusivas, nada!

Assim, não demorará muito o Brasil poderá se converter numa Grécia sul americana.

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